Nunca se falou tanto em construção sustentável como nos últimos anos e isso tem razão de ser.
A cada dia mais pessoas se conscientizam sobre o impacto das atividades humanas no meio ambiente e em paralelo, surgem muitas iniciativas com a intenção de garantir um futuro de qualidade para as próximas gerações.
E na área da construção civil não é diferente. Afinal, trata-se de um setor que impacta negativamente no meio ambiente devido ao consumo excessivo de materiais, água e energia. Só para ter uma ideia desse impacto ambiental, saiba que, segundo o CBCS, o setor da construção civil consome 75% dos recursos naturais, 20% da água nas cidades e gera 80 milhões de toneladas/ano de resíduos.
Por isso muitas construtoras estão investindo forte em pesquisa e conhecimento para apresentar soluções eficazes para os principais problemas ambientais, ou seja, procurando fazer uma construção sustentável.
Mais do que uma tendência na engenharia, arquitetura e decoração, a sustentabilidade veio para ficar e se engana quem pensa que não seja possível aliar a moderna tecnologia com criação de edificações que atendam todas as necessidades de seus usuários.
E para que você fique por dentro do assunto, preparamos este conteúdo especial. Acompanhe e saiba mais sobre construção sustentável.
Boa leitura!
O que é construção sustentável
A construção sustentável é um conjunto de boas práticas que devem ser adotadas antes, durante e após os trabalhos de construção. Seu objetivo é que se tenha uma edificação que não agrida o meio ambiente, que tenha o melhor conforto térmico sem a necessidade (ou com necessidade reduzida) de consumo de energia e que melhore a qualidade de vida dos seus moradores e/ou usuários. Além disso, para que uma construção seja considerada sustentável, ela deve ser executada utilizando-se materiais e técnicas que garantam uma maior eficiência energética.
Aspectos ambientais, sociais e econômicos devem ser considerados em todas as etapas do processo de construção, tais como:
- Escolha do terreno;
- Implantação adequada ao entorno;
- Gestão eficiente do canteiro de obras;
- Geração de resíduos;
- relação com os trabalhadores;
- escolha dos materiais;
- manutenção e desmontagem.
A origem da construção sustentável
A ideia de construção sustentável não é uma novidade, porém demorou para chegar no Brasil. Países da Europa, Estados Unidos e Japão já criaram inclusive incentivos para os empresários ou pessoas comuns que optem por uma construção sustentável ou ecologicamente correta. Assim, mesmo aquelas pessoas que não possuem muito capital disponível, podem investir em uma construção sustentável aproveitando os incentivos.
A aplicação do conceito de construção sustentável teve início após a Crise do Petróleo (década de 1970), que obrigou engenheiros e arquitetor a pensarem em novas formas de reduzir o consumo de energia. Após o término da crise, o conceito não sumiu e a tendência de levar a sustentabilidade a sério só cresceu a partir de então.
É importante destacar que somente durante parte do século XX os fundamentos da chamada arquitetura bioclimática, que veio a se chamar arquitetura sustentável foram perdidos. Isso porque as construções sempre levaram em consideração clima, ambiente, natureza etc. No entanto, durante o século XX, iniciou-se uma corrente dentro da construção civil de abandono desses fundamentos, por conta do crescimento exponencial das cidades. E como você já pode imaginar, o impacto dessa corrente sobre a natureza foi absurdo, e somente a partir de sua segunda metade do século passado passou-se a rever essa política e seus impactos.
Evolução do conceito de construção sustentável
Em 1997, em Helsinki, na Finlândia, houve a primeira convenção internacional sobre construção sustentável. E, um ano após, no Reino Unido, lançou-se a primeira entidade de certificação de prédios sustentáveis, a BREEAM.
Atualmente, o número de prédios sustentáveis é grande. E o Brasil se destaca, ocupamos o 5º lugar entre os países que mais produzem prédios verdes no mundo. Estamos atrás apenas dos Estados Unidos, China, Canadá e Índia.
Construção ecológica X Construção sustentável
Há outro termo que costuma ser confundido com “construção sustentável”, é a “construção ecológica”.
Embora na prática os dois termos acabem sendo usados da mesma forma, o primeiro refere-se a uma prática mais comum no meio urbano e que visa à utilização de tecnologias que permitem a sustentabilidade da construção. Já o segundo está relacionado a técnicas de construção que utilizam materiais encontrados no próprio local da construção e propõe a menor interferência possível na paisagem.
Assim, podemos dizer que são construções ecológicas as casas dos esquimós, feitas de gelo (um material encontrado no próprio local) e que praticamente se confunde com a paisagem.
Os 9 passos da construção sustentável
Segundo os profissionais da área existem nove passos que devem ser seguidos para que a construção seja considerada uma construção sustentável. São eles:
- Planejamento da obra de forma sustentável
- Aproveitamento dos recursos naturais disponíveis. Ventilação e luminosidade naturais, por exemplo, ao invés de ar condicionado e iluminação artificial durante o dia
- Eficiência energética
- Gestão e economia de água
- Gestão de resíduos
- Qualidade do ar e ambiente interior
- Conforto térmico e acústico
- Uso racional dos materiais
- Uso de tecnologias e produtos que não agridam o meio ambiente.
Assim, uma edificação sustentável começa antes mesmo da construção. Deve- ser analisado o ciclo de vida do empreendimento e dos materiais usados, o estudo do impacto ambiental da construção, um planejamento da gestão dos resíduos que serão gerados e melhor forma de utilização do material, além do que a planta deve ser planejada de modo que aproveite o máximo possível dos recursos naturais disponíveis (como ventilação e luminosidade natural) e promova a redução do consumo de energia e água através do reuso e implantação de formas alternativas de energia como a energia solar, a energia eólica e etc.
Já durante a construção, devem ser adotados cuidados para evitar o desperdício de materiais. O que além de gerar ganhos ambientais com minimização do uso de matérias-primas ainda gera ganhos econômicos para o dono da obra que economizará com materiais.
Quando finalizada a obra devem ser observados os cuidados necessários à destinação dos resíduos da construção e em todas as etapas devem ser utilizados materiais não tóxicos. Alguns dos materiais “condenados” por qualquer padrão de construção sustentável são: amianto, chumbo e alumínio.
A construção sustentável depois de pronta deverá ter coleta seletiva e um local específico para acondicionar os resíduos recicláveis. Aos ocupantes ou proprietários caberá apenas desfrutar de uma construção saudável, ecologicamente correta e econômica.
Materiais e soluções sustentáveis na construção
Um ponto muito importante quando falamos de construção sustentável é a escolha dos materiais que serão usados, bem como das soluções que serão utilizadas no decorrer da obra. Isso fará toda diferença. Confira a seguir alguns desses materiais.
Bioconcreto ou concreto vivo
Já falamos do concreto vivo aqui no blog e é realmente um tema fascinante e ao mesmo tempo muito simples.
A superbactéria Bacillus pseudofirmus é inserida na mistura de concreto tradicional e é ativada quando entra em contato com água ou oxigênio.
Assim, quando o concreto começa a desgastar, as bactérias entram em cena, se abrem e provocando reações químicas. Por sua vez, essas reações químicas promovem a regeneração do concreto.
Telhado verde
Essa é uma excelente ideia quando se pretende unir estética e utilidade. O objetivo do telhado verde, do qual também já falamos aqui no blog, é reduzir os impactos causados pela falta de arborização e ao mesmo tempo amenizar a temperatura dentro do imóvel.
De acordo com uma pesquisa do EnergySavers, os telhados verdes são capazes de reduzir as chamadas ilhas de calor, muito frequentes nas grandes cidades.
O que acontece é que as plantas funcionam como um filtro de ar natural, refletindo mais raios do sol que telhas convencionais.
Bambu
O bambu é também outro excelente material para ser usado na construção. Ele pode ser utilizado com diversos fins na construção civil. Seja como matéria prima para a fabricação de portas e pisos, seja para substituir o concreto armado.
Ao contrário de outras espécies, ele tem um crescimento acelerado. Com isso, é possível que sua colheita seja feita todos os anos sem prejudicar o meio ambiente. No mais, o bambu tem alta durabilidade, possui fácil instalação e manutenção.
E claro, o bambu também fica lindo quando utilizado na decoração e no paisagismo.
Adobe
O tijolo de adobe é aquele feito a partir da mistura de argila, com areia e água. Ele é bastante usado principalmente nas regiões de solo argiloso e clima seco.
O tijolo adobe é ótimo indicado para a construção de alvenarias estruturais externas, porque, depois de seco, adquire uma alta resistência. E no mais, tem uma excelente propriedade acústica.
Tinta ecológica
As tintas ecológicas são feitas a partir de matérias-primas as totalmente naturais. Nelas não são utilizados insumos derivados do petróleo ou componentes sintéticos.
Algumas tintas são, inclusive, até mesmo livres de compostos orgânicos voláteis (COVs). Substâncias essas que podem ser agressivos à saúde e que contribuem para a destruição da camada de ozônio.
Vidro inteligente
Os chamados vidros eletrocrômicos ou vidros inteligentes são uma novidade que prometem virar tendência na construção sustentável.
Eles possibilitam o controle de quanto uma área será iluminada, bem como da transparência aos raios solares na fachada ou até mesmo em ambientes internos. Assim, dependendo da temperatura do dia, é possível ajustar os controles para maior ou menor entrada de luz pelo vidro.
Com o uso dos vidros inteligentes é possível uma economia de mais de 25%. E isso é possível já que se evita gastos com iluminação, ventilação e ar-condicionado.
Lâmpadas de alta eficiência energética
As lâmpadas fluorescentes compactas vieram para ficar e tem tudo a ver com sustentabilidade.
Ainda que mais caras que as lâmpadas comuns, elas compensam o gasto inicial na economia de energia. Com o uso delas, pode-se reduzir em até 80% o gasto com iluminação.
No mais, elas desperdiçam pouca energia, não esquentam e duram 10 vezes mais que as convencionais.
Por isso, na hora do projeto de iluminação vale a pena levar esse tipo de lâmpada em consideração.
Containers
Embora os containers não sejam exatamente um material de construção, eles tem tudo a ver com a proposta de sustentabilidade. E, o que era apenas moda, passou a ser muito usado quando se pensa em construção sustentável.
As estruturas de containers economizam até 30% na construção de uma casa ou edifício em relação a um projeto tradicional.
A casa sustentável
Já falamos aqui no blog sobre casa sustentável, mas vale citar aqui que uma casa sustentável é aquela projetada e construída de forma que agrida o mínimo possível o meio ambiente. Além disso, não pode-se esquecer que é necessário assegurar a segurança e bem-estar dos moradores.
De forma resumida, podemos dizer que as características essenciais de uma casa sustentável são, entre elas:
- Uso da energia solar é essencial.
- Uso de formas alternativas para evitar o desperdício de água. Calhas, tubulações e filtros são usados para conter a água das chuvas e direcioná-las para destinos diretos.
- Janelas maiores e que permitam grande entrada de luz solar direta no ambiente, permitindo o uso reduzida de luz artificial durante o dia e assim economizando energia.
- Ao escolher lâmpadas prefira as fluorescentes que consomem um quarto a menos de energia que as tradicionais incandescentes, ou escolha as lâmpadas LED que também são muito eficientes no âmbito sustentável, devido a sua alta duração.
- Uma construção sustentável não pode causar danos à natureza. Ou seja, sem contaminação do solo, poluição da água, do ar e ar ou desmatamento da área no entorno.
- Uso de materiais certificados.
- Uso de madeira de reflorestamento.
- Descarte correto dos resíduos e entulhos gerados na construção.
- Uso de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos que indicam uma maior e melhor eficiência energética. Ou seja, que consumam menos energia.
Arquitetura vernacular e sustentabilidade
Outo aspecto interessante a ser abordado quando se fala em construção sustentável é arquitetura vernacular. Ou seja, a arquitetura construída com técnicas e materiais originários de uma região específica, um conhecimento geralmente passado de geração a geração.
Ela pode ser chamada de sustentável porque utiliza técnicas bioclimáticas passivas e materiais com baixa energia incorporada. Entretanto, nem toda arquitetura sustentável pode ser considerada vernacular.
E como a preocupação com a sustentabilidade se torna cada vez mais presente, é importante valorizar a sabedoria das técnica regionais. A arquitetura vernacular é sempre bela e adequada para o local onde está inserida.
Se você deseja incorporar técnicas sustentáveis na sua construção, vale a pena procurar saber mais sobre a arquitetura vernacular. É interessante perceber que as comunidades antigas já faziam algo que nós temos nos esforçado para descobrir, que seja, como viver de forma sustentável.
Cada região do planeta possui suas características próprias e singulares. E essas diferenças, incluindo questões tecnológicas, econômicas, históricas e ambientais, acabam se refletindo na arquitetura.
Para saber mais sobre arquitetura vernacular, vale a pena conferir nosso artigo Já ouviu falar sobre Arquitetura Vernacular?